Gerente de serviços nas linhas de recuperação de impostos e reintegra da Becomex, durante muitos anos Marcelo trabalhou na área tributária e hoje nos conta a sua trajetória.
Quando começou a trabalhar como office-boy em um escritório contábil, Marcelo Fernandes não imaginava que aquela vaga mudaria completamente a sua vida.
O ano era 1990, ele, então com 15 anos de idade e a curiosidade inerente aos adolescentes, não se contentava em apenas fazer o trabalho para o qual foi contratado. Mas também não tinha a pretensão de fazer outra coisa, apenas queria saber o que faziam aquelas pessoas que falavam de tributos em tempo integral.
O conhecimento que lhe faltava no assunto, sobrava em interesse. Foi assim que decidiu utilizar o seu horário de almoço para ver o time trabalhar e descobrir o significado de cada palavra, frase ou conversa que escutava aleatoriamente.
“Eu não tinha conhecimento nenhum sobre nada da área, mas ficava o tempo inteiro ouvindo o pessoal falar de tributos, cálculos e eu queria saber como funcionava aquilo. Então passei a acompanhar a equipe durante o meu horário de almoço, depois comecei a ajudá-los e assim fui aprendendo”, lembra.
Seu interesse, rapidamente lhe rendeu uma promoção, passando de office-boy para assistente fiscal. Aquele era o primeiro degrau a ser subido pelo menino curioso, que desde então não parou de subir.
“Como assistente fiscal eu fiquei cinco anos. Depois fui promovido para analista júnior, pleno e sênior.”
A escalada, porém, não foi fácil. O conhecimento sobre a área que havia adquirido em anos de trabalho já não era o suficiente, o mercado estava mudando e a formação universitária tornou-se pré-requisito. Obedecer à exigência, no entanto, não era algo simples para quem nasceu em uma família humilde.
Mas Marcelo venceu, e após 29 anos de carreira, conta nessa entrevista como foi realizar essa trajetória de sucesso na área tributária.
Como você analisa a profissão no início de sua carreira e atualmente?
O analista do passado não é o de hoje. As pessoas tiveram que se adaptar às mudanças. As mudanças aconteceram em uma velocidade muito grande. Não tinha computador, internet… Tudo era feito manualmente.
Tudo o que era feito manualmente, hoje fazemos eletronicamente, pela internet. É tudo integrado, tem um compliance.
Hoje para ser analista é preciso ter formação universitária, antes não tinha essa exigência e ela foi sendo pedida durante esse ciclo de mudanças.
Como foi para você atravessar essa mudança?
Passar pela mudança não foi fácil. Tinha muito medo do desconhecido. Quando saiu a nota fiscal eletrônica tive um medo absurdo de utilizá-la.
Estudei muito, pesquisei muito, fiz muitos cursos para me atualizar e me adaptar à tecnologia da informação. O analista que não conhece os sistemas é um analfabeto tributário. Tudo é online, não tem como não se atualizar.
Como você driblou a exigência de formação universitária?
Eu venho de uma família humilde, naquela época era muito difícil entrar na universidade, as faculdades eram muito caras. Eu fui estudando e me atualizando da maneira que podia.
Consegui me formar em ciências contábeis, mas muito do que eu sei eu aprendi no dia a dia, na prática. É no dia a dia que você aprende a maior parte das coisas.
Existe diferença entre o analista que se forma hoje e o analista de quando você iniciou na área?
Os analistas que se formam hoje são mais avançados do que os que se formavam ou iniciavam na minha época. Tínhamos assinatura de livros, revistas. Recebíamos as atualizações pelo correio.
Hoje a internet proporciona muita informação, basta pesquisar e se esforçar para se manter constantemente atualizado. As coisas mudam de um dia para o outro.
E no mercado, no dia a dia, qual diferença você mais percebe?
Antes levávamos anos para recebermos a intimação de um erro encontrado pelo FISCO. Hoje, em no máximo um mês, já sabemos o que erramos, já temos uma devolutiva da intimação.
Qual a sua trajetória de cargos?
Eu iniciei sendo assistente fiscal. Depois fui promovido para o cargo de Analista Fiscal Tributário júnior, posteriormente pleno e sênior. Durante muitos anos trabalhei como analista tributário sênior em indústrias e em multinacionais, até chegar a coordenador. Atualmente sou gerente de serviços nas linhas de recuperação de impostos e reintegra da Becomex.
Como é trabalhar em uma profissão que está em constante mudança?
É um desafio! O analista é extremamente importante para a empresa. Por meio dele é a entrada e a saída de toda a movimentação da empresa. É o analista quem lança a nota e faz as apurações dos impostos.
Se houver um erro na entrada, na saída ou na apuração, esse erro comprometerá todo o processo e toda a área tributária da empresa.
O que é a área tributária para você?
Tudo o que eu tenho na minha vida eu devo à área tributária. Foi extremamente importante para tudo o que conquistei. Sou muito grato à minha profissão. Não faria outra coisa em minha vida. Se tivesse que fazer tudo de novo, sabendo cada dificuldade que iria passar, com certeza eu faria.
Qual mensagem você gostaria de deixar?
O analista Tributário de hoje não só entrega obrigações acessórias, mas também atua de forma estratégica, olha o todo e não somente a sua área, e com isso consegue reduzir custos e trazer resultados com maior compliance possível.
O manual ficou eletrônico, os temidos disquetes hoje nem lembramos mais que existiram.
Temos a nota fiscal eletrônica, os SPED contábil, fiscal, ou os dois juntos. Não recebo mais carta porque agora é E-CAC. E a produção, que antes não tinha controle, agora é controlada mensalmente. Tudo mudou e ainda mudará. É preciso se manter constantemente atualizado para acompanhar as mudanças na área.
Não sentir medo nem insegurança quando elas ocorrerem, porque estão sempre ocorrendo.