Por Gustavo Felizardo da Becomex
Buscar formas de combater o coronavírus tem trazido ao mundo inovações, mas principalmente uma aceleração no tempo para implantá-las. O coronavírus simboliza um marco que ainda não existia no novo século. O mundo “apagou” e precisou pensar diferente, fazer diferente para poder ser religado.
O mundo não será como antes e nem as indústrias. Mas como preparar as empresas para previsões que não podem ser feitas ou inovações que ainda não foram criadas? Como sobreviver até essa crise – sem precedentes na história – passar?
De acordo com os dados divulgados pelo Boletim Focus, do Banco Central, a estimativa de queda do PIB brasileiro para este ano deu uma ligeira melhorada saindo dos -5,31% para -5,11%. Para 2021, a expectativa do mercado financeiro de crescimento do PIB foi mantida em 3,50%, uma pequena “gota de entusiasmo” no caos gerado pela pandemia.
Nosso consumo vai mudar e ditar o ritmo da retomada. Para isso, é preciso observar atento para alguns segmentos que vão refletir as tendências do crescimento e da reação do mercado. O setor automotivo, por exemplo, que representa cerca de 20% do PIB, pode nos apontar caminhos.
A Anfavea já sinaliza rever as projeções iniciais do período mais latente da crise, que apontavam queda anual do mercado interno de veículos de até 45% em relação a 2019, para uma perspectiva ligeiramente mais positiva. Isso motiva o mercado de forma geral. Mesmo diante de tudo isso, a indústria manteve seus lançamentos no calendário de 2020 e boa parte tem confirmado investimentos anunciados antes do início da pandemia no país.
Essas sinalizações nos alimentam de certezas de que não há crise que perdure para sempre. Olhando com todos os cuidados para os países que já passaram pelo momento mais crítico da pandemia, é possível enxergar que a economia volta a acelerar. O consumo reprimido tem ajudado a aquecer a economia. O agronegócio tem impulsionado sua relevância e suas exportações.
Mas diante desse nocivo vai-e-volta dessa economia com setores que ensaiam uma retomada, como é possível organizar o planejamento tributário no Brasil e ainda se preparar para 2021? A resposta é direta e clara: é preciso caixa e “caixa” não é lucro. Como cumprir com as obrigações diante de uma caixa desabastecido?
É preciso estruturar a visão sobre a importância do caixa. Depois disso, é preciso também olhar para o estoque. No planejamento ideal, é fundamental cuidar do caixa hoje para manter o mínimo fazendo reposição sem afetar o caixa. Com a baixa do consumo por conta da crise, consome-se mais caixa do que entra receita.
O governo tem postergado imposto como medida para ajudar as empresas a preservar seus caixas, mas é preciso lembrar que a conta vai chegar. Postergou, mas não cancelou. Vai ter que pagar. Vai ter que ter caixa. E o que impacta seu caixa hoje além de salários e encargos?
Essa resposta você vai encontrar na sua estratégia tributária. Ela terá o poder de aumentar o fluxo do caixa. Para isso, “mergulhe” no processo produtivo da empresa. E precisa fazer isso agora. Certamente, lá tem imposto parado com insumos que a empresa importou com dinheiro que investiu para trazer a mercadoria seja do mercado interno ou externo no passado e você pode não ter se dado conta.
Existem ferramentas do governo que ajudam a constituir o caixa. São instrumentos legais que podem ser utilizados agora para ajudar a dar “fôlego” para o caixa. Buscar ressarcimento do IPI, fazer uma PER/ DComp, são inúmeras possibilidades.
Por exemplo, a Receita Federal já vinha desenvolvendo o Operador Econômico Autorizado (OEA), que oferece vantagens às empresas. Recentemente, a Receita fez o primeiro desembaraço de canal vermelho remotamente para uma empresa com OEA, um avanço extraordinário para o setor. Isso fez com que a organização não parasse sua linha de produção e continuasse gerando caixa.
O novo normal daqui para frente vai exigir estratégias diferenciadas de compras e vendas com sinergia entre os times de compra vendas e produção. O que devemos fazer diferente?
Em primeiro lugar, a indicação é cuidar da escrituração e garantir que tudo esteja correto e em compliance. Já existe tecnologia para aferir isso que reduz, e muito, os esforços dos times internos. É preciso levantar, por exemplo, se todos os benefícios de exportação do passado foram aproveitados. Também saber se todos os benefícios de isenção de impostos foram devidamente solicitados. Esse “dinheiro novo” é necessário para ajudar a compor o seu estoque.
Fazer o diferente é lembrar que há ferramentas para buscar no passado a recuperação de custos para gerar fôlego para continuar o processo produtivo. Depois disso, é fundamental definir um regime especial ideal para a sua operação.
De todas as lições que a crise tem nos ensinado, uma das mais expressivas é que nunca foi tão importante ter sinergia com os seus fornecedores locais. É preciso acelerar em velocidade máxima nas empresas o desenvolvimento de fornecedores locais.
No seu fornecedor estão as oportunidades de redução de custos em cadeia, com regimes de efeitos suspensivos de impostos que vão tornar as operações envolvidas muito mais competitivas.
Fazer o novo é traçar com eles a estratégias com seus fornecedores. Assim, ele também fortalece o caixa na retomada mantendo uma estratégia de equilíbrio em todas as pontas para preservar a margem no preço/peça.
O que a empresa ganha com isso? Tempo para olhar para novos negócios com mais tranquilidade e que lá na frente é convertido em competitividade, chegando em 2021 com estoque mais leve e aproximando a despesa da receita, o sonho dourado das finanças.
Para quem resiste em acreditar que aquele mundo não existe mais saiba que 2020 foi o treino e com aprendizados que levariam talvez um século para ocorrer. A grande transformação virá em 2021, prepare-se para uma agenda de “execução” de todas essas lições que 2020 vai nos deixar. Acelere!