A leitura dos números da indústria automobilística no primeiro semestre de 2025 exige mais do que uma análise sobre os percentuais de crescimento. Ela exige contexto, interpretação e, sobretudo, cautela. O saldo positivo da produção, divulgado pela Anfavea, é uma fotografia que não revela, sozinha, o movimento completo do setor. Por isso, olhar além dos percentuais é essencial.
A produção de veículos acumulou alta de 7,8% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior. É um avanço, mas que se baseia em uma comparação com um semestre fraco em 2024. Além disso, nos últimos dois meses, já se percebe uma desaceleração: o mês de junho teve retrações de 6,5% na produção, 5,7% nos emplacamentos e 2,7% nas exportações. Mais de 600 postos de trabalho diretos foram encerrados recentemente na indústria.
Esse cenário reforça a preocupação com o desempenho do segundo semestre, que tende a ser mais desafiador. A base de comparação passa a ser o segundo semestre de 2024, marcado por resultados mais robustos. A perspectiva, portanto, é de pressão por resultados em um contexto de desaceleração industrial, crédito caro, inadimplência crescente e estoques elevados, especialmente entre os veículos eletrificados importados.
As exportações cresceram 59,8% no semestre, com destaque para a recuperação do mercado argentino, responsável por 60% do total embarcado. No entanto, essa concentração também acende um alerta: a forte dependência de um único parceiro comercial pode trazer riscos caso o cenário econômico argentino volte a se deteriorar. Em outros destinos, como México e Chile, os embarques perderam participação.
No mercado interno, os emplacamentos somaram quase 1,2 milhão de unidades no semestre, uma alta de 4,8% sobre o mesmo período de 2024. Mas a diferença no desempenho entre veículos nacionais e importados é significativa: os importados cresceram 15,6%, enquanto os nacionais avançaram apenas 2,6%. As vendas de veículos leves nacionais no varejo, por exemplo, recuaram 10%, movimento que não ocorria há quase dois anos.
O segmento de caminhões também apresenta tendência de desaceleração. A produção ainda registra leve alta de 3,1% no acumulado do semestre, mas os emplacamentos recuaram 3,6%. A queda consecutiva nos últimos três meses mostra um cenário mais sensível. No caso dos ônibus, o setor teve desempenho mais positivo, com crescimento de 7,3% na produção e de 31,3% nas vendas no semestre.
Estratégias para potencializar a indústria automobilística
A indústria automotiva brasileira opera com processos produtivos complexos, que geram impactos relevantes na cadeia de fornecimento e no emprego. Cada posto de trabalho direto pode significar outros dez indiretos. Por isso, a retomada sustentável da indústria depende de um ambiente regulatório que incentive a produção local, a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a valorização da matriz energética nacional, com uso de biocombustíveis.
Nesse cenário, o Grupo Becomex tem contribuído com a indústria automobilística na construção de soluções que ampliam a competitividade. A partir de estratégias que envolvem o uso inteligente de regimes especiais, otimização tributária e aumento da eficiência na cadeia de suprimentos, é possível reduzir custos e destravar operações complexas, com segurança e conformidade.
A atuação integrada e estratégica, com forte capacidade analítica e foco na geração de valor, permite ao setor automotivo enfrentar desafios conjunturais com mais solidez, principalmente neste momento em que temos uma reforma tributária pela frente, com impactos diretos na gestão dos negócios das empresas. Com o suporte do Grupo Becomex, montadoras e fornecedores conseguem, por exemplo, elevar sua produtividade, aprimorar controles e obter ganhos relevantes em operações internacionais, inclusive no comércio exterior.
Diante do atual cenário, cabe uma análise técnica e pragmática. A indústria automobilística tem papel fundamental na economia brasileira, mas enfrenta obstáculos estruturais e conjunturais que exigem atenção contínua, planejamento de longo prazo e respostas coordenadas. O semestre encerrou com números positivos na produção, mas com sinais que não podem ser ignorados.
Marcos Gonzalez – diretor responsável pelo segmento automotivo do Grupo Becomex