Acompanhar a evolução da indústria automobilística brasileira é mais do que observar números: é entender os movimentos de um setor que ainda busca estabilidade diante de um cenário global e interno desafiador. Os dados do primeiro trimestre de 2025 divulgados pela Anfavea mostram isso com clareza e apontam caminhos, oportunidades e alertas.
No acumulado dos três primeiros meses do ano, a produção nacional de autoveículos cresceu 8,3% em relação ao mesmo período de 2024. Ao todo, 583 mil unidades saíram das linhas de montagem, o maior volume para um primeiro trimestre desde 2021. Por outro lado, março registrou uma queda de 12,6% na produção frente a fevereiro, especialmente nas montadoras de automóveis e comerciais leves, devido a ajustes nos estoques e à retração das exportações. Foi o pior março desde 2022.
Esse contraste entre crescimento no acumulado e recuo pontual no último mês exige atenção. A média diária de vendas em março foi de 10,3 mil unidades, um avanço de 11,3% sobre fevereiro, mesmo com um dia útil a menos no calendário. No trimestre, os emplacamentos somaram 552 mil unidades, alta de 7,2%. Mas esse avanço veio, em grande parte, do crescimento das vendas diretas e da participação dos veículos importados.
Os modelos vindos do exterior representaram 61% do aumento nas vendas do período. Das 37,2 mil unidades adicionais vendidas em relação ao mesmo intervalo de 2024, 22,6 mil vieram principalmente da Argentina e da China. Com isso, a competitividade do produto nacional passa a ser um ponto de reflexão, especialmente considerando os custos de produção e os entraves logísticos e regulatórios que o país ainda enfrenta.
Do ponto de vista externo, o destaque positivo foi o aumento de 40,6% nas exportações no primeiro trimestre, impulsionado especialmente pelo crescimento de 120% nos embarques para a Argentina. No entanto, março trouxe uma queda de 19% nas exportações em relação a fevereiro, o que acende um sinal de alerta sobre uma possível desaceleração. Ainda não se sabe se essa variação foi sazonal ou o início de uma tendência de retração.
Internamente, há fatores que inibem investimentos, como o esgotamento dos recursos para pesquisa e desenvolvimento. Além disso, o custo de financiamento para pessoas físicas atingiu seu maior nível histórico, 29,5% ao ano, dificultando o acesso ao crédito e impactando diretamente o varejo automotivo. No segmento de caminhões e máquinas, mesmo com uma safra recorde, os juros altos pressionaram os resultados, com queda significativa nos emplacamentos de caminhões pesados.
Frente a esse panorama, reforço o papel que o Grupo Becomex pode desempenhar na construção de soluções para tornar a indústria automotiva mais competitiva, especialmente no campo das exportações. Com uma atuação focada em conformidade tributária, regimes especiais e estruturação de processos de comércio exterior, conseguimos maximizar o aproveitamento de incentivos fiscais e logísticos que impactam diretamente no custo final dos veículos.
Por meio de estratégias de integração com a cadeia produtiva, planejamento e execução operacional, contribuímos para que as empresas do setor automotivo consigam acessar mercados internacionais com mais eficiência. Essa atuação torna os veículos produzidos no Brasil mais atrativos em termos de preço, prazo e previsibilidade. Em um cenário de oscilações internas e externas, essa competitividade é decisiva para garantir a sustentabilidade e o crescimento das exportações.
O trimestre foi um retrato fiel dos desafios que ainda enfrentamos e dos ajustes que precisam ser feitos. Ao mesmo tempo, foi um sinal de que há espaço para avanços, desde que o setor consiga agir com agilidade diante das incertezas. A indústria automotiva brasileira continua sendo um pilar importante da economia nacional e é nosso papel buscar as condições para que ela siga se desenvolvendo com solidez.
Marcos Gonzalez – diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex