A trajetória da indústria automobilística brasileira no primeiro quadrimestre de 2025 traz sinais claros de recuperação produtiva, mas também de um ambiente competitivo que impõe novas reflexões. O aumento das exportações impulsionou os índices de produção, ao mesmo tempo em que a maior presença de veículos importados começa a influenciar o desempenho das vendas internas.
Entre janeiro e abril, a produção nacional de autoveículos atingiu o maior volume desde 2019, com um total de 811,2 mil unidades. O crescimento foi de 6,7% em relação ao mesmo período de 2024. Em abril, foram produzidas 228,2 mil unidades, representando alta de 20,1% sobre março e de 2,8% na comparação com abril do ano passado.
O destaque mais positivo do quadrimestre veio do setor externo. As exportações brasileiras totalizaram 161,9 mil unidades nos quatro primeiros meses do ano, número 47,8% superior ao registrado em igual período de 2024. Só no mês de abril, foram embarcadas 46,3 mil unidades, com aumento de 18,9% sobre março. A Argentina respondeu por 59,1% de todos os veículos exportados pelo Brasil, um avanço significativo ante os 34,8% do ano anterior.
Essa performance favorável no mercado externo contribui diretamente para o aumento do uso da capacidade instalada das montadoras. No entanto, os sinais de estabilização no mercado interno e o avanço das importações mostram que há questões estruturais que seguem exigindo atenção.
As vendas totais no mercado interno somaram 208,7 mil unidades em abril, alta de 6,7% em relação a março. Mas, na comparação com abril de 2024, houve retração de 7,1%, influenciada também por dois dias úteis a menos. No acumulado do quadrimestre, os emplacamentos chegaram a 760,4 mil unidades, com crescimento de 3,4% frente ao mesmo período do ano passado.
O recorte entre veículos nacionais e importados revela uma disparidade. Enquanto os modelos nacionais cresceram apenas 0,2% no acumulado, as vendas de veículos importados subiram 18,7%. Essa diferença acende um alerta, especialmente quando se observa a concorrência crescente no varejo e a pressão sobre os volumes produzidos localmente.
No segmento de veículos pesados, a situação demanda atenção. As vendas de caminhões acumuladas até abril estão 0,4% abaixo do ano anterior, representando a primeira retração de 2025. Em abril, a produção caiu 6% em relação a março, com 11 mil unidades fabricadas.
O mês de abril também marcou a regulamentação do Programa Mover, que representa um novo marco regulatório e de incentivos para inovação e sustentabilidade na indústria automobilística. A publicação do decreto pelo Governo Federal insere o Brasil em um contexto mais competitivo globalmente, com estímulos para tecnologias de propulsão e menor impacto ambiental.
Os dados do primeiro quadrimestre de 2025 nos ajudam a entender com mais clareza os pontos de sustentação do setor, assim como os desafios que exigem ação coordenada entre indústria, governo e toda a cadeia produtiva.
Nesse contexto, a indústria automobilística também poderá encontrar caminhos estruturais de melhoria com o apoio de soluções especializadas. A aplicação de regimes especiais, inteligência fiscal e estratégias para otimização de custos logísticos são pontos centrais que o Grupo Becomex pode oferecer, com potencial de impacto direto na competitividade dessas operações industriais.
Além disso, a cadeia de suprimentos desse segmento, caracterizada por elevada complexidade e volume de componentes importados, pode ser beneficiada por iniciativas que integrem compliance e performance tributária. O domínio de mecanismos como o Drawback, o Recof e a habilitação a regimes aduaneiros especiais se tornam essencial para preservar margens e garantir a continuidade operacional em ciclos de maior pressão.
Marcos Gonzalez – diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex