O grande destaque da indústria automobilística em 2023 até o momento é a publicação da Medida Provisória do Setor Automotivo, a MP 1175/2023, que tem como principal objetivo promover o acesso da população a veículos novos, estimular o segmento automotivo nacional, promover a descarbonização da matriz de transportes e impulsionar o crescimento econômico.
A ideia surgiu durante o mês de maio e foi publicada pelo Governo Federal no Diário Oficial da União no dia 6 de junho. Liderada pelo Vice-Presidente de República Geraldo Alckmin, que também é Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a desoneração prevê a redução do preço de automóveis, caminhões, ônibus e vans.
Esse incentivo à renovação da frota contará com o total de R$ 1,5 bilhão em créditos tributários, assim distribuídos: R$ 500 milhões para estímulo à troca por carros menos poluentes; R$ 700 milhões para caminhões; e R$ 300 milhões para ônibus e vans.
O objetivo do Governo é que o incentivo seja temporário e dure quatro meses. Para viabilizar a redução nos preços dos veículos, as montadoras receberão créditos tributários para oferecer um desconto diretamente ao consumidor final, entre R$ 2 mil a R$ 8 mil nos carros; de R$ 33,6 mil a R$ 80,3 mil nos caminhões; e de R$ 38 mil a R$ 99,4 mil nos ônibus e vans.
Pelas estimativas da ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, cerca de 100 mil a 110 mil automóveis e comerciais leves deverão usufruir dos descontos antes do esgotamento do teto, e isso deverá ocorrer em pouco mais de um mês, ou seja, bem antes dos quatro meses de prazo estipulado pela MP.
Já para caminhões e ônibus a Associação acredita em um prazo mais largo para o teto de R$ 1 bilhão, pois além de serem veículos de maior valor, eles têm a venda atrelada à retirada das ruas e reciclagem de veículos pesados com mais de 20 anos de uso para ter direito ao desconto de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil.
A MP ajuda, mas como afirma a ANFAVEA, ela dará um fôlego de pouco mais de um mês para a indústria automobilística. O segmento automotivo precisa ter alternativas para minimizar os impactos da crise, moderando e equilibrando os interesses para que toda a cadeia produtiva seja beneficiada.
A indústria já trabalha a busca por benefícios oferecidos pelo governo, mas seria capaz de evoluir deixando de enxergá-los de forma isolada. Fizemos um levantamento e, apesar de 70% do setor automotivo já fazer uso dos principais incentivos disponíveis, em média esse mercado utiliza apenas 43% dos benefícios concedidos. Há muito espaço para ser conquistado.
No geral, Márcio de Lima Leite, Presidente da ANFAVEA, elogiou a abrangência do programa adotado, que tem um viés não só de aquecimento do mercado de veículos leves e pesados, mas também com um lado ambiental e de segurança viária muito forte, promovendo a renovação de frota de caminhões e ônibus de forma direta, e estimulando indiretamente essa renovação entre os automóveis.
Resultados da indústria automobilística em maio e no acumulado do ano de 2023
A produção de autoveículos em maio teve o melhor resultado desde agosto, com 227,9 mil unidades, 27,4% superior a abril e 10,7% a mais que em maio de 2022. O retorno das fábricas que haviam parado em parte do mês anterior e um maior número de dias úteis são alguns dos fatores que foram responsáveis por essa alta.
É preciso considerar também a expectativa gerada pelo anúncio de medidas para reaquecer o mercado citadas no início desse artigo. Muitas empresas ampliaram seus estoques à espera de uma forte demanda a partir deste mês. Por outro lado, houve um adiamento de compra por parte de muitos consumidores desde a metade de maio.
As 176,5 mil unidades emplacadas no último mês representaram crescimento de 9,8% sobre abril e recuo de 5,6% sobre o mesmo mês do ano passado. Como maio teve quatro dias úteis a mais que abril, a média diária de vendas caiu 10,1% em relação ao mês anterior, de 8.929 para 8.025 unidades/dia.
Esses movimentos da produção e do mercado interno geraram pela primeira vez em três anos um nível de estoque que só se verificava antes da pandemia, com mais de 250 mil unidades nos pátios das fábricas e das concessionárias.
Já na área de comércio exterior, que pouco se relaciona com as questões de nosso mercado interno, houve crescimento nos embarques em maio. As 44,3 mil unidades exportadas significaram o segundo melhor mês do ano, com uma elevação de 30,4% sobre abril. No acumulado do ano, as exportações estão 4,2% abaixo de 2022, na contramão do desempenho acumulado de produção e vendas, que cresceram até maio 6,2% e 9,3%, respectivamente.
Marcos Gonzalez – diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex