Ao longo deste primeiro trimestre de 2022, muito se discutiu acerca dos desafios da indústria automotiva no Brasil frente aos recentes – e imprevisíveis – obstáculos que se apresentaram à nível global.
A crise dos semicondutores, (consequência da pandemia Covid-19 e, posteriormente, agravada pela variante ômicron) e os efeitos desastrosos do recente da guerra entra Rússia e Ucrânia afetaria, ainda mais, o setor já tão fragilizado.
Diante deste cenário de grandes incertezas, este artigo visa realizar uma retrospectiva, olhar para os números e analisar os próximos passos da indústria automotiva no Brasil
De olho no mercado nacional: os números da indústria automotiva em 2022
Embora a indústria automotiva no Brasil tenha se recuperado um pouco em março deste ano (emplacando 146,8 mil unidades) em relação ao mês anterior (132,3 mil veículos), ainda assim, no trimestre, a queda foi pesada em relação ao mesmo período do ano passado: -23,2%. Isso porque a expectativa era de uma leve melhora neste ano em decorrência do abrandamento da pandemia.
De janeiro a março deste ano o mercado nacional absorveu 405,7 mil veículos. No mesmo trimestre do ano passado, com pandemia em curso, foram licenciados 527,9 mil automóveis. É certo que, com exceção do mercado chinês, que registrou crescimento de apenas 0,5% neste primeiro trimestre quando comparado com janeiro a março do ano passado, todos os grandes mercados mundiais tiveram quedas.
Veja as quedas deste trimestre dos principais mercados automotivos:
- EUA, 15,3%;
- Japão, 16,3%;
- Coréia do Sul, 14%;
- França, 17,3% e
- Alemanha, 4,6%.
Fonte: Anfavea
A situação da indústria automotiva no Brasil está particularmente crítica. A média diária de licenciamentos não passou de sete mil unidades neste ano. A média de vendas diárias no ano passado foi de 8,5 mil veículos. Mas as montadoras instaladas por aqui precisam de uma média diária bem acima disso para que o negócio seja sustentável.
Com inflação e desemprego em níveis elevados, juros altos e queda acentuada do poder aquisitivo da população, o alerta vermelho está aceso novamente desde o final do ano passado. Soma-se ao problema o fato de as montadoras já terem anunciado que não têm mais como produzir veículos populares até mesmo porque exigências ambientais e de segurança forçam, naturalmente, o emprego de tecnologias mais avançadas e, obviamente, mais caras.
E tem, ainda, a forte pressão dos custos dos insumos que aumentaram brutalmente durante a pandemia. Ou seja, carro novo, mesmo os mais básicos, ficaram mais distantes da classe média. Por isso os desafios de toda cadeia automotiva nacional são imensos.
Desafios antigos que se fazem presentes
O Brasil é o grande hub de produção automotiva da América do Sul, mas a região, em si, representa um volume baixo para as fabricantes em comparação com as demais regiões do planeta: segundo dados da Anfavea, dos mais de 77 milhões de veículos produzidos em todo o mundo no ano passado, na América do Sul (entenda Brasil e Argentina) foram produzidos pouco mais de 2,6 milhões de automóveis.
Além de engenharia criativa e fortes investimentos para modernização do parque industrial, montadoras, sistemistas e fabricantes de autopeças instalados no Brasil precisam lidar com um mercado instável e, a cada quatro anos, com novas incertezas sociais em razão de disputas políticas cada vez mais polarizadas e sempre apontando caminhos radicalmente distintos.
Razão pela qual, cada vez mais, também se torna necessário ter muita inteligência tributária estratégica para conseguir lidar e driblar o complexo sistema tributário nacional e, assim, desenhar um cenário favorável para indústria automotiva no Brasil.
Marcos Gonzalez – Diretor do segmento automotivo da Becomex.