Esse primeiro semestre de 2022 foi de causar arrepios em todo mercado automotivo. Mais uma vez, quando tudo parecia caminhar para um ano de recuperação mais sustentável, veio a terrível notícia, em 22 de fevereiro, da invasão da Ucrânia por tropas russas. Um desastre humanitário, social e econômico que as pessoas civilizadas não imaginavam que poderia se repetir neste Século bem nas bordas da Europa.
Rússia x Ucrânia: consequências para o mercado automotivo
Com todo mundo se esforçando para se recuperar dos inúmeros problemas gerados pela Covid, veio, então, a barbárie retrógrada de uma guerra. Para o mercado automotivo, fortemente globalizado, as consequências foram terríveis. Os problemas logísticos, já ruins em função da pandemia, ficaram colapsados com o advento de uma guerra entre duas nações de grande peso econômico em todo mundo.
Os preços das commodities, como esperado, foram às alturas. O barril de petróleo ultrapassou a marca dos 100 dólares e só agora, no segundo semestre, com receio de uma onda global de recessão, se estabilizou. Mas a alta tensão gerada por uma logística global sempre sujeita a problemas de todas as ordens misturada com a compreensão de difícil solução entre os dois beligerantes países reforça uma estratégia automotiva que já havia sido traçada com a pandemia: é preciso localizar mais componentes e depender o menos possível das instabilidades externas.
Um exemplo bem emblemático está aqui mesmo no Brasil. Os consumidores entraram neste ano dispostos a comprar carro zero quilômetro. O problema foi que a oferta não conseguiu atender a demanda. De acordo com a Anfavea, neste primeiro semestre aconteceram mais de 20 paradas nas montadoras por conta da falta de peças. Muitas das quais, obviamente, importadas.
A falta de oferta teve reflexo direto no recuo dos licenciamentos. Em junho, eles totalizaram 178,1 mil unidades, queda de 4,8% em relação a maio e de 2,4% sobre junho de 2021. Descontado o feriado prolongado de Corpus Christi, a média mensal de vendas se manteve em 8,5 mil unidades, mesmo valor de maio. No acumulado do semestre, a redução foi de 14,5%. Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, disse que “esse é um fenômeno global, com números de queda muito semelhantes aos dos principais mercados do planeta”.
Saldo positivo do semestre: Aumento da exportação
A boa notícia do semestre para o mercado automotivo foi a recuperação das exportações, a despeito da crise na Argentina. Graças ao aumento dos envios a países como Colômbia, Chile, Peru, México e Uruguai, as montadoras exportaram 246 mil unidades entre janeiro e junho deste ano, sendo 47,3 mil somente no mês passado, melhor resultado mensal desde agosto de 2018. O crescimento sobre o primeiro semestre de 2021 chegou a 23%. Em valores exportados, a alta já é de 33,7%, em função dos embarques de autoveículos de maior valor agregado.
Expectativa para os próximos meses
Como a média mensal de licenciamentos subiu em maio e junho e levando-se em conta o bom momento dos veículos produzidos no Brasil nos países sul-americanos, as projeções para o segundo semestre do mercado automotivo são mais animadoras. Para a produção, a nova expectativa é de fechar o ano com 2.340 mil unidades, alta de 4,1% sobre 2021. Para vendas internas, espera-se chegar a 2.140 milhões de autoveículos licenciados, crescimento de 1% sobre o ano passado.
Já a expectativa para a exportação é de 460 ml unidades embarcadas até o fim do ano, alta de 22,2% na comparação com 2021.
Poderia, naturalmente, ser ainda melhor não fosse a elevação dos juros no Brasil aliada às restrições ao acesso de crédito que prejudicam aquele grupo de pessoas que busca veículos de entrada.
Marcos Gonzalez – diretor do segmento automativo na Becomex