A guerra entre Rússia e Ucrânia já completa mais de um mês e, além de trágica sob o ponto de vista humano, vem se mostrando um desastre econômico global e de proporções ainda não previstas. Hoje, já é possível mapear algumas das consequências que a indústria automotiva e as montadoras vêm enfrentando ao redor do globo.
Certamente, como já ocorreu com a pandemia, trata-se de mais um agente com capacidade de ocasionar mudanças brutais nos rumos da economia mundial. Neste artigo, discutiremos os possíveis impactos deste conflito a médio e longo prazo na indústria automotiva, se este assunto é do seu interesse, continue a leitura!
Contexto: como a indústria automotiva já vinha fragilizada
O setor automotivo já iniciou o ano de 2022 enfrentando diferentes desafios.
Sabemos que janeiro é, historicamente, um mês ruim para vendas mas, neste ano em específico, houve uma sobreposição de fatores: queda de produtividade nas montadoras em decorrência da pandemia e a crise dos semicondutores, ocasionada pelo surgimento da variante Ômicron.
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Apesar deste cenário, ainda havia um certo otimismo em relação aos próximos meses para o setor, visto que a expectativa era que os efeitos da Ômicron fossem sendo amenizados gradativamente. Contudo, surgiu um elemento surpresa nesta equação. A guerra no leste europeu veio como mais uma pedra no caminho da recuperação rápida desta indústria.
Primeiros impactos da guerra no setor
Logo na primeira semana de guerra, diversas montadoras na Alemanha e Inglaterra tiveram que paralisar suas produções por falta de componentes vitais que eram diariamente recebidos de fornecedores instalados na Ucrânia e, além disso, as fabricantes em função das sanções impostas à Rússia fecharam unidades no país.
A logística que já estava caótica e cara por conta da pandemia, tornou-se ainda mais difícil com o fechamento de importantes corredores de escoamento de insumos como o espaço aéreo russo e ucraniano. Não obstante, outro agravante se apresentou: vias férreas importantes como a Transiberiana, que as montadoras alemãs usam para abastecer as fábricas na China, interrompidas.
Efeito bola de neve: repercussão na ponta final da cadeia
No Brasil, observamos que as vendas de automóveis continuam tímidas. No primeiro bimestre deste ano, ainda sem nenhum efeito desta guerra, tivemos licenciados 255,8 mil veículos, resultado 24,4% inferior ao mesmo período do ano passado.
A Anfavea divulgou os resultados de janeiro e fevereiro na semana passada e o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, deu uma explicação para as baixas vendas do mês passado: “As notícias de que o IPI automotivo estava prestes a ser reduzido fizeram com que muitos clientes adiassem a concretização do negócio”.
Na média, o governo reduziu o IPI em 18,5%, sendo que em alguns modelos o índice foi ainda maior, 25% mas, nem deu tempo para celebrar e, além disso, é necessário mencionar que, mediante a tais circunstâncias, os combustíveis imediatamente ficaram mais caro em todo o mundo e, no Brasil não foi diferente.
Assim, o mercado sendo pego de surpresa com o aumento exagerado anunciado pela Petrobras semana passada, a inflação vai subir ainda mais e a economia, como um todo, provavelmente encolherá.
Conclusão
O fato é que, com o choque da pandemia e, agora, com essa lamentável guerra, poucos podem sequer arriscar quais serão os desdobramentos. O mundo passará por grandes e aceleradas transformações e, dito isso, é possível afirmar que produção local certamente voltará a ser mais valorizada e incentivada, porém, a globalização, sempre vista como algo fundamental e benéfico, mostra agora, com pandemia e guerra, também seus nocivos efeitos colaterais.
Marcos Gonzalez – Diretor automotivo da Becomex.