O setor automotivo vinha apresentando resultados otimistas durante todo o segundo semestre de 2022 e, embora tímido, o crescimento na produção de autoveículos de 5,4% surpreendeu até mesmo a ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, que previa 4%.
Contribuiu para isso a sensível redução nas paralisações de fábricas no segundo semestre, com uma melhora parcial no fluxo de componentes eletrônicos. Vale lembrar que um total de 20 fábricas paralisaram sua produção em algum momento no primeiro semestre, o que totalizou 357 dias de paralisação, juntando todas. Segundo a ANFAVEA, em decorrência disso, 170 mil veículos deixaram de ser produzidos no período.
Com a produção de 191,5 mil autoveículos em dezembro, o ano de 2022 fechou com 2,37 milhões de unidades. Em 2021 tivemos 2,24 milhões e em 2020 2,01 milhões. De início, a ANFAVEA já projeta 2,42 milhões de autoveículos produzidos para 2023, com um crescimento de 2,2%, mesmo com o setor produtivo ainda sofrendo os impactos da falta de componentes.
Setor automotivo: tendência de crescimento em 2023
Vale destacar que o crescimento em 2023 deve se concentrar na produção de automóveis e comerciais leves, pois o segmento de pesados será impactado pela mudança da regra de emissões para o Proconve P8, que deve provocar um inevitável reajuste de preços e queda de produção.
Para Márcio de Lima Leite, presidente da ANFAVEA, o número positivo de produção acontece depois de um primeiro quadrimestre muito difícil em função da falta de semicondutores. “O setor acelerou o ritmo e conseguiu atender parte da demanda reprimida nos mercados interno e externo”, afirmou Leite.
As exportações tiveram o indicador mais positivo da indústria automotiva em 2022, mesmo com as restrições de comércio exterior impostas pela Argentina em crise, nosso maior parceiro comercial. Em contrapartida, os destaques ficaram para o crescimento dos embarques para mercados latino-americanos, em especial México, Colômbia e Chile.
Com os 480,9 mil autoveículos exportados no ano, o crescimento foi de 27,8% sobre 2021 e em valores, as exportações tiveram alta ainda maior, de 37,6%, por conta do envio mais significativo de veículos com maior valor agregado, como SUVs, caminhões e ônibus. Para 2023, a ANFAVEA projeta uma pequena queda de 2,9%, ainda puxada pelas restrições da Argentina, com uma exportação total de 467 mil unidades.
O mercado interno chegou a 2,10 milhões de unidades, apenas 0,7% abaixo do acumulado de 2021. Automóveis e ônibus tiveram melhor desempenho que no ano anterior, mas a queda de caminhões e comerciais leves puxou para baixo o resultado geral. Para 2023, a ANFAVEA projeta vendas internas de 2,17 milhões de autoveículos, uma alta de 3%, com aumento na venda dos leves e queda dos pesados.
Para a ANFAVEA, o Brasil tem uma série de lições de casa a serem feitas para que o mercado deixe de andar de lado como nos últimos anos. “A questão do crédito é o tema mais urgente a ser atacado”, explicou o presidente Leite.
Para ele, é preciso baixar os juros para atrair mais compradores para os veículos novos, sobretudo os modelos de entrada. Além disso, temas como a reindustrialização e a descarbonização impõem desafios e oportunidades.
“Vamos continuar mantendo o diálogo com os novos governantes em nível federal e estadual, além dos parlamentares, de forma a contribuir para o fortalecimento da nossa indústria ante uma conjuntura global cada vez mais competitiva”, finalizou o executivo.
De acordo com um levantamento feito pela BECOMEX, apesar de 70% do setor automotivo já fazerem uso dos principais incentivos disponíveis, este mercado usufrui, em média, de apenas 43% dos benefícios concedidos pelo governo.
Portanto, com uma inteligência estratégica automotiva, é possível moderar e equilibrar os interesses para que todos sejam beneficiados, contribuindo significativamente a melhoria da competitividade neste importante segmento da economia brasileira.