O balanço de 2020 apresentado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) mostrou quatro realidades para o panorama da indústria automotiva em 2021. Uma já esperada, que o forte impacto da pandemia no setor, levou a uma queda de 26,2% nas vendas em relação ao ano passado. E três boas surpresas inesperadas: a queda foi bem menor do que o projetado em março, o segmento de caminhões sentiu muito menos o problema e o mês de dezembro foi surpreendentemente positivo para caminhões com um volume superior a dezembro de 2019.
O ano passado fechou com um volume de 2,07 milhões de unidades comercializadas, muito parecido com o patamar de 2016, mas bem aquém do montante considerado saudável de 3 milhões de unidades. Vale lembrar que a capacidade técnica instalada das montadoras no Brasil permite a produção de até 5 milhões de unidades por ano.
A Anfavea projeta crescimento de 25% na produção de veículos para este ano, com cerca de 2,52 milhões de veículos, 15% de acréscimo nas vendas de automóveis com mais de 2,36 milhões de unidades e 15% a mais nas vendas de caminhões, superando 100 mil unidades.
Fatores que vão colaborar com essa expansão: facilidade de crédito, estimativa de crescimento do PIB de cerca de 3,5% e o dólar com leve tendência de baixa, provavelmente estabilizado, na média do ano, de US$/R$5,00 o que também favorece as exportações.
Mas é preciso considerar igualmente os fatores que podem prejudicar essa retomada como a demora na imunização em massa, pressão dos preços dos insumos e impostos e taxas com tendência de elevação.
O Governo do Estado de São Paulo, por exemplo, apresentou pacote de ajuste fiscal para todos os autoveículos, que eleva a partir de 15/Jan/2021 o ICMS dos veículos zero km de 12,0% para 13,3% e a partir de 15/Abr/2021 sobe novamente para 14,5%, o que irá gerar ainda mais créditos tributários acumulados de ICMS no setor automotivo no estado de São Paulo, que já passa de R$5,3 bilhões. Já nos veículos usados a alíquota passará de 1,80% para 5,53%, o que afeta o mercado de veículos usados e consequentemente a indústria automotiva.
Para tirar o melhor proveito da bonança que se avista no setor e para responder, sem sustos ou traumas, às novas exigências tecnológicas e aumentos de impostos, o fator crucial que vai determinar o sucesso ou, infelizmente, o fracasso das empresas que atuam na cadeia automotiva, estará totalmente ligado à boa gestão financeira.
Soluções fáceis como simplesmente repassar valores ao consumidor final ou, ainda, pressionar elos mais fracos da cadeia para redução de preços onde não é mais possível extrair mais nada, não serão viáveis e só irão comprometer ainda mais os objetivos conjuntos do setor que é diminuir a capacidade ociosa (hoje em mais de 50%).
É preciso, mais do que nunca, saber aproveitar integralmente os benefícios fiscais oferecidos pelos mais diversos regimes especiais disponíveis nos âmbitos federal, estaduais e municipais. Mais do que temer eventuais e imprevisíveis aumentos de impostos é imperativo saber como se valer, com inteligência estratégica, de suas isenções e benefícios.
Por Marcos Gonzalez – Diretor do Segmento Automotivo Becomex